As mulheres separadas, com filhos, sofrem constante patrulhamento, velado ou explícito, da sua conduta como mães. Diferentemente de algumas décadas atrás, hoje existem muitas possibilidades de lazer, de desenvolver interesses variados e de fazer novos amigos. É cada vez mais difícil resistir a esses apelos e continuar desempenhando o papel de mãe abnegada que vive só para os filhos.
A sensação de estar transgredindo o modelo de boa mãe determinado como natural, torna a mulher vulnerável a críticas. Disso se aproveitam não só as pessoas que a cercam, como também as instituições empenhadas em mantê-las sob controle. Cada uma delas, acenando com o crime de abandono dos filhos, tenta imobilizar a mulher na função de mãe. Quase sempre os motivos dos ataques são pessoais e inconscientes, mas, amparados pelos dogmas da maternidade, adquirem aparência de verdade indiscutível.
Dessa forma, os filhos são usados como pretexto para que maridos ciumentos, ex-maridos rejeitados, mães e amigas invejosas projetem suas impossibilidades na mulher que ousa desafiar a moral estabelecida.
Trecho do livro A Cama na Varanda, de Regina Navarro Lins
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