quinta-feira, 24 de setembro de 2009

O parto

Tudo que eu mais queria era ter um parto normal. E tudo que eu mais temia era a cesareana.
E, com essa idéia firme, durante os nove meses da gravidez passei por 5 obstetras diferentes. Até encontrar uma que me fizesse acreditar que iria realizar o parto normal. Pois é, hoje em dia o que é normal é a cesareana. É mais barato para o médico, mais rápido para a futura mãe e tem muita mulher que jura que é menos dolorido. Bom... isso para quem prefere sentir dor durante 15 dias e depois durante meses com a maldita aderência... rs Eu ainda prefiro sentir dor em apenas um dia, mesmo que seja intensa.
Então eu estava com 39 semanas de gestação e o Artur estava na posição certinha, mas ele não encaixava. Então resolvi seguir todos os conselhos que ouvi pela rua: sai pra andar pelos shoppings, Feira dos Importados, faz acupuntura, faz agachamentos várias vezes ao dia,... até pular eu pulei, juro! rs
Dia 21 de Abril eu completei 40 semanas de gestação e tinha consulta com a minha obstetra para ver se o Artur tinha resolvido nascer. Ele continuava do mesmo jeito... E eu? Inchada dos pés a cabeça (sabe quando você aperta com o dedo e a pela demora pra voltar ao lugar? assim...), sem conseguir dormir, cansada, morrendo de calor e minha pressão que até então era 10X6 sem variações estava 12X8. A Dra. resolveu medir a pressão dos meus pais que estavam comigo, a deles estava normal. Só a minha estava alterada...
Como minha vontade era ter o parto normal, ela falou que esperaria até domingo (26/04), mas que eu tinha que observar algumas coisas: medir a pressão para ver se alterava, se o inchaço permanecia ou aumentava, visão embaçada, cansaço excessivo,...
É... eu tinha todos esses. Então, ela veio com a notícia: Pré-eclampsia. O parto tinha que ser imediato. 
Minha mãe começou a chorar, meu pai ficou perdido e eu fiquei muda. Juro que nada passava pela minha cabeça, eu não sabia o que pensar... Mas concordei, afinal, não tinha outra opção, ne? 
A Dra. mandou eu ir pra casa arrumar as coisas e retornar para o hospital às 15h para o parto, quando fomos pegar a autorização (isso mesmo, precisa pegar uma autorização no hospital), não tinha vaga no Centro Obstétrico e tinham 6 gestantes esperando e mais 2 chegariam até às 15h. Fomos andando até o hospital que tem em frente e nesse tinha vaga no Centro Obstétrico naquele momento, mas não tinha vaga no Neonatal (caso o Artur tivesse algum problema ao nascer, não tinha como atendê-lo). No hospital anterior tinha vaga no Neonatal... Então, como resolver? Eu assinei um documento dizendo que estava ciente que não havia vaga no Neonatal e que, caso houvesse algum problema eu me responsabilizaria pelo transporte ao outro hospital. Na mesma hora comecei a ligar para a família, pro meu irmão levar as coisas... uma correria. Minha mãe continuava chorando e meu pai continuava perdido, acredito que ele nem sabia onde estava... rs
Na mesma hora fui encaminhada para o Centro Obstétrico e começa aquele entra e sai de enfermeiras, um médico que nunca tinha visto, logo depois meu pai aparece, a minha obstetra chega e o tão temido anestesista aparece.
Ali naquela sala, eu tremia tanto, não sabia se era de frio do ar condicionado ou do medo da anestesia...rs Acho que era mais do medo da anestesia.
Mas, para a minha calma, por coinscidência do destino, o anestesista era um amigo do meu pai. Quando eles se reconheceram, ele me explicou cada passo, me mostrou todo o equipamento e foi me tranquilizando.

A anestesia? Não senti NADA! Eu juro. Na hora que ele terminou de aplicar, pediu para eu levantar a perna e depois disso eu já não sentia nada. Eu perguntei se ia demorar, eles começaram a apostar em quanto tempo o Artur nascia. A maior aposta era em 9 minutos, porque seria 13h13. Mas, em 8 minutos o Artur já fazia parte desse mundo, chorou, fez xixi no médico que auxiliou o parto e vieram me mostrar. Embrulhadinho naquele pano verde de hospital, eu praticamente não consegui vê-lo.
Depois, foram 40 minutos até costurarem cada uma das 7 camadas... E me levaram para uma salinha gelada onde fiquei sozinha das 14h até às 17h, quando subi para o quarto. A hora parecia que não passava.
Nesse período que fiquei esperando sozinha, por um momento, a enfermeira trouxe o Artur para mamar. E agora? Será que eu sei como faz isso? Como segurar esse serzinho tão pequeno? Eu queria pegar, apertar, olhar no olho, e não podia... Eu mal conseguia me mecher... Mas, foi tranquilo. Já nascemos sabendo como agir nessa situação.   
No quarto, foi uma bagunça só, o conforto e alegria de ver toda a família reunida, do meu lado, querendo saber todos os detalhes. Mas, haviam mais regras a serem cumpridas... Eu não podia falar nas próximas 24 horas nada além do essencial. rs Não preciso nem dizer que não consegui, ne? Mas eu tentei!
Logo que eu cheguei no quarto, trouxeram o Artur... E ai, ninguém mais lembrava de mim... rs Era um tal de "ele parece com fulano", "não, ele parece com ...", "ele é uma mistura", "o nariz é de ...", ... hehehehehehe
E o tempo passou... cade a comida???? Eu estava MORRENDO de fome... Fiquei sem comer das 8h até às 21h30, quando já estavamos xingando todo mundo no hospital porque não traziam... rs
E depois de comer, fui obrigada a levantar... Que dor!!! Eu queria era ficar deitada mesmo e não sentir aquilo... Mas, não podia... E lá vou eu, me arrastando pelo quarto, morreeeeendo de dor. Como era mesmo aquela história de que cesárea não tinha dor?

Um comentário:

  1. FAntástico depoimento! deve ser divulgado mesmo afinal, são tantas histórias que acontecem de maneira tal que as pessoas nao contam, fazendo da vida só fantasia... Na realidade outros contextos vao interpelando nossos desejos e Por que? Muitas vezes por que vivemos num mundo enlatado... temos vantagens também, mas é preciso discernimento para escolher o que é comida de verdade e o que imita a realidade e o que para sobreviver é o melhor a comer...
    Gostei do seu desabafo, muitas outras parturientes devem escuta-lo, Abraços, Fernanda

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